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Por IDMJR


A IDMJR publica mais um mapa da série geopolítica do poder na Baixada Fluminense, após a divulgação dos mapas de conflitos urbanos dos municípios de Belford Roxo e Duque de Caxias, chegou a hora de Nova Iguaçu.

O objetivo dos mapas é demonstrar os conflitos e disputas territoriais cotidianas produzido por milícias e varejo de drogas com a ação ou omissão do Estado para fomentar e consolidar uma política de controle dos territórios para acumulação do capital, de controle e produção de morte, sobretudo em corpos negros e /ou pobres. Mas, anterior a esta cartografia do poder cotidiano precisamos falar e reconhecer a Baixada Fluminense e Nova Iguaçu como espaço de resistência.

A história da Baixada Fluminense é atravessada pela ideia de que esses municípios são abandonados e negligenciados, tendo uma população sem identidade coletiva, porém quando analisamos os processos de apagamento que a baixada sofreu percebemos que essa narrativa foi estruturada para o não pertencimento, sendo essas características pejorativas parte de uma produção sistematizada pelo Estado. Uma das resistências mais fortes que se tem notícia, vem pela formação quilombola da Hidra de Iguassú, sendo uma analogia à mitologia da Hidra de Lerna, a serpente de muitas cabeças, esse quilombo foi uma sociabilidade fundamental para as terras deste lado de cá da Guanabara, instaurando o enfrentamento ao Estado escravagista e definindo a autonomia de uma geração de negros fugidos e indígenas destribalizados.

As áreas comandadas pela Hidra de Iguassu fundaram a região da baixada fluminense, que desde sua origem é um território marcado pela resistência e por lutas contra as violações do Estado, durante seus quase 100 anos de existência a Hidra foi configurada como o principal problema de segurança pública para o governo brasileiro devido a dificuldade de captura e subjugação deste aquilombamento.

Podemos assim ratificar que a Baixada Fluminense e Nova Iguaçu apesar de atualmente termos o domínio territorial das milícias em consórcio com o estado como política de Segurança Pública com predominância, organizações e coletivos resistem denunciando e lutando contra estes domínios como faz a IDMJR.

Com as emancipações e  crescimento da região, com  a construção da Rodovia Presidente Dutra e a recuperação e revitalização da malha ferroviária, o município de Nova Iguaçu teve um aumento  populacional e com isso assumiu outro papel como: cidade dormitório e de corredor de acesso para o Rio de Janeiro.

Conforme a  ocupação do município foi aumentando a partir da política de estado da ausência,  sem infraestrutura  adequada e tendo a problemática de  recursos  financeiros escassos . A gestão pública de Nova Iguaçu utilizou – se da estratégia de investimentos seletivos, onde o centro recebe  grandes investimentos em serviços e equipamentos públicos, enquanto os bairros novos que surgem  a partir de loteamentos, ficam com verbas reduzidas afetando assim os direitos mais básicos dos moradores. Esta política de investimentos seletivos, supervalorizou algumas áreas, e isto fica materializado ao visualizarmos ao longo da linha férrea, o muro que separa , provocando uma divisão  na cidade de Nova Iguaçu, tudo isto produzido pelo mercado imobiliário e pelo poder hegemônico das milícias.

Com essa segregação é possível visualizar a diferença de acessos a direitos básicos e vulnerabilidade  que alguns  bairros sofrem , apresentando assim o contexto e a conjuntura para expansão no território de Nova Iguaçu da dominância e da hegemonia das milícias como donas dos territórios, sempre com a participação ativa ou passiva do Estado, ou seja, todos territórios viram mais uma fonte de acumulação do capital. No nosso mapa fica evidente o poder das milícias em Nova Iguaçu, cerca de 73% dos bairros são dominados pelas milícias e outros poucos pelo varejo de drogas.

Ao observarmos a geopolítica local de poder nas disputas territoriais em Nova Iguaçu podemos afirmar que o projeto de milicialização da política de Segurança Pública do Estado avança por quase toda a região, sendo um dos municípios da Baixada Fluminense com maior hegemonia miliciana. Esta hegemonia é liderada por milícias e em determinados territórios com uma aliança construída entre as Milícias e o Terceiro Comando, que inclusive conta com a participação da Polícia Militar, com as sucessivas realizações de operações policiais em pequenas áreas ainda de domínio do Comando Vermelho.  

A milícia em Nova Iguaçu vem construindo sua acumulação de capital e produzindo terror a partir :

  •   Do  Acessos a várias vias e super-vias que facilita a circulação  entre os bairros ,municípios e cidades;
  •   Pela taxação em quantidades de comércios ;
  •   De Vasto locais  afastados ,abandonados , sem  residências  e  fiscalização propícios para  (“Desova e Desaparecimentos Forçados”) , esconderijo e fuga;
  •   Áreas  de grande extensões de  mata (Esconderijo e Fuga)
  •  Extorsão de comerciantes da Região;
  •  Agiotagem;
  •  Exploração do sinal de TV/Internet ;
  •  Transporte alternativo;
  •  Empresas de Segurança Privada;
  •  O fornecimento de gás e de água ;
  •  Investimento em empresas Terraplenagem (Infraestrutura, terraplenagem e pavimentação);
  •  Desapropriação de Terras;
  •  Domínio e invasão nos  condomínios do programa habitacional ;
  •  Implantação de  franquias de  grande lojas ;
  •  Investimentos em construtoras de Imóveis;
  • Ocupação em  Espaços Políticos no território(legislativo e executivo);
  • Venda de Produtos Falsificados e adulterados ;
  • Venda de Tecnologias de produção de morte.

A expansão  da milícia em Nova Iguaçu  aumentou  a chance de enriquecimento e lavagem de dinheiro  ilícito, por isso, o grande interesse  de ocupar cada vez mais o Município por vezes se associando com facções  do varejo de drogas como nosso mapa apresenta. Outro destaque é a presença apontada que em algumas áreas de milícias, grupos de extermínio sobrevivem.

Esta cartografia das disputas territoriais do cotidiano de Nova Iguaçu foi produzida por atores e atrizes que resistem nestes espaços catalogados. Eles e elas foram fontes e ao mesmo tempo produtores/as de conhecimento.

“Eu acredito que a gente deveria abandonar a linguagem da faculdade, o “facultês”, o “universitês” e, se possível, tentar representar a realidade, os fatos como um enredo.”
(Milton Santos)

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