
Por Patrick Melo
20 de novembro é o dia instituído como Dia da Consciência Negra em todo território nacional. Acabamos chegando sempre ao fim do ano nos deparando com inúmeros posicionamentos míopes sobre a real questão racial em que a sociedade brasileira está colocada. A data que traz consigo posicionamentos e relatos sobre raça humana, e por isso consciência humana, nos coloca à reflexão sobre o real entendimento e comprometimento da sociedade de forma geral para o fim e superação do racismo como fenômeno que tem centralidade para definir as relações em sociedade, portanto quem está sujeito à morte, à violências de gênero, desaparecimentos forçados, negação de direitos, postos de trabalho precarizados, baixo salário, etc.

Não é necessário caminhar a longos passos, quando ao rolar o feed de redes sociais recebemos inúmeras denúncias do quão violentada a população negra continua sendo, daqueles que consomem em shoppings e são perseguidos e asfixiados por seguranças – literalmente ou pelo adoecimento psicológico pelas violências incorridas – àqueles em que nossos corpos e nossos territórios são tombados pelo braço armado do Estado e das instituições, públicas ou privadas, que o constroem; reforçando sempre de forma prática e objetiva, nada sútil, quem continua sendo o corpo elegido como inimigo de uma sociedade embebida pelos parâmetros universais de humanidade, brancos.
Não houve 13 de maio que desse conta de abolir a escravidão e suas mazelas, não há 25 de julho que permita a vivacidade da memória e da vida de mulheres negras e suas famílias completamente maculadas pela dor de sobreviver por aqui, não haverá 04 de novembro que dê possibilidade de reflexão real sobre a construção e luta dos territórios negros, as favelas e periferias, não será o dia 20 de novembro o marco a se celebrar pela consciência negra.
Temos consciência de todos os processos históricos, e por isso reivindicamos todas estas datas como lembrete de que: os mesmos que lutaram aguerridamente para que tivéssemos o reconhecimento em calendário oficial, são aquelas e aqueles que doaram suas vidas acreditando na possibilidade de vida de um povo, e na transformação desta sociedade a partir da luta e de posicionamento.
Reivindicamos, também, o dia 20 de Novembro, de Zumbi e Dandara dos Palmares. Pois consciência, por vezes, é dolorida, quiçá de fato seja mais seguro não refletir sobre as dores que acometem os corpos que carregam a tez que não tem a cor da paz (branca), e por isso não é encontrada por ela. Por isso, seguimos em luta não apenas por consciência, mas pela abolição de nossas dores, de todas as instituições e mecanismos que nos cortam diariamente, em todos os lugares.
Já afirmamos que uma elite negra não nos salvará, que o Estado não irá garantir nossas memórias, que o racismo é o maior parâmetro, ainda hoje, para a construção e execução de políticas públicas, e que antes da consciência humana a branquitude precisa ter consciência de seus privilégios. Tentam cortar nossas raízes e interromper o florescer, mas brotamos a cada corte com mais certeza de que não nos salvarão de nossa dor, mas continuaremos perseguindo as possibilidades e estratégias por liberdade.
20 de Novembro. Por Zumbi e Dandara dos Palmares, Maria Rita dos Santos, Wanda Araújo, Patrícia Oliveira, Lúcia Xavier, Rose Cipriano, Viviane Gomes, Giselle Florentino, Glaucia Marinho, Monique Cruz, Renata Trajano, Maria Dalva da Silva, Camila Santos e todas e todos que nos deram e nos dão a possibilidade de avançar em consciência e em luta todos os dias!
“A liberdade é uma luta constante.”