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Por IDMJRacial


O município de Belford Roxo teve como legado da ditadura militar, a formação de grupos de extermínios e justiceiros, que ratificaram a imagem de uma cidade ser conhecida pelas manchetes de jornais como uma das mais violentas do Brasil. Aqui vale ressaltar que a IDMJR não concorda com esta afirmação e propõe analisarmos como a região foi sistematicamente violentada pelo Estado, como a jornalista Gisele Martins nas discussões sobre violências e territórios favelados.

Atualmente Belford Roxo, convive com a potencialização da produção de mortes e desaparecimentos forçados realizado pelo Estado devido a uma política de segurança pública baseada no conflito armado e policiamento ostensivo. Ademais, após uma megaoperação policial para a instauração de um Destacamento da Polícia Militar em Roseiral. Foram 100 dias ininterruptos de uma megaoperação policial para implementação deste destacamento de Polícia Militar, que contou com a realização de 26 operações policiais, 28 registros de tiroteios e 03 chacinas que resultaram em mais de 30 pessoas assassinadas. Diante desta violação brutal, a IDMJR produziu um relatório internacional que sistematizou os relatos e denúncias de moradores e moradoras de Belford Roxo para a CIDH e ONU1.

Ressaltamos que a ocorrência constante de conflitos territoriais é de responsabilidade do Estado, por omissão ou participação ativa. Não trata-se de disputas particulares entre atores privados ou poderes paralelos, o varejo de drogas e milícias compõem as relações políticas e econômicas do Estado.

A metodologia para a construção deste mapa de controles e domínios territoriais na Baixada Fluminense passou pelo cruzamento de narrativas de moradores e moradoras de Belford Roxo e  com produção de dados sobre o monitoramento de operações policiais da IDMJR.

Vale salientar que o mapa e os espaços aqui representados, como nos ensinou o grande geógrafo Milton Santos é algo dinâmico, logo as representações e o espaço de hoje, podem não ser o de amanhã, ainda mais quando as disputas de fato são para aumento da lucratividade e expansão do poder de influência destas frações de milícias e também do varejo de drogas.

A cada disputa territorial, todo um ciclo de lucratividade é gerado, seja no circuito formal ou dito informal da indústria de armas, como novas aquisições de munições e armas para atualização do arsenal de guerra do Governo e também destes grupos armados. Desde o financiamento de equipamentos bélicos até os acordos e negociatas de poder, como os arregos.

Ao observarmos a geopolítica local de poder nas disputas territoriais em Belford Roxo podemos afirmar que o projeto de Segurança Pública do Estado da Milicialização é hegemônico e avança por quase toda a região. Em que esta hegemonia é liderada por uma espécie de parceria entre as Milícias com o Terceiro Comando, que inclusive conta com a participação da Polícia Militar, com as sucessivas realizações de operações policiais em áreas de domínio do Comando Vermelho.

Em relação aos municípios mais afetados com operações policiais no levantamento lançado no ano passado pela IDMJR2, Belford Roxo e Duque de Caxias juntos correspondem por 58% das operações policiais realizadas na Baixada Fluminense. São áreas que as frações das milícias estão disputando com a facção de tráfico do Comando Vermelho. São essas comunidades onde moradores e moradoras dizem que sofrem mais com as violações produzidas pelas policiais, já que após uma operação policial o território fica vulnerável para um ataque de outros grupos armados, em que o Estado atua como um articulador de disputas territoriais em favor de um grupo específico.

Ademais, há locais em que ocorrem a presença combinada entre Milícias e Terceiro Comando, um convívio de parceria e divisão de serviços entre esses poderes e mediado com a participação do Estado. Dada a reorganização do poder das milícias na Baixada Fluminense mesmo durante a pandemia, que passa a ter uma maior influência das lideranças das frações de milícias de Parada de Lucas. Os territórios estão em franca disputa entre facções de tráficos e também sob a égide de novos acordos das milícias. Haja vista, as novas frentes de atuação das milícias, como falsificação de produtos – desde cervejas à cosméticos femininos.

Podemos inferir que as áreas que possuem pleno controle e domínio das milícias são as que menos sofrem com operações policiais, como no caso de Nilópolis que não registrou nenhuma operação da Polícia Militar durante 1 ano de liminar do STF que proíbe operações policiais em todo o território fluminense. Por conseguinte, também explica a expansão tão rápida do domínio de milícias em todo o território da Baixada Fluminense.


1 https://dmjracial.com/2021/01/26/denuncia-internacional-mortes-em-belford-roxo/

2https://dmjracial.com/wp-content/uploads/2021/06/Relatorio-de-Operacoes-Policiais-na-Baixada-.pdf

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