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Por: Fransérgio Goulart

Era o ano de 2019, quando um militante de um movimento social que se colocava como um desconstruído na luta antirracista e que dizia reconhecer seus privilégios, realizou uma série de ações racistas contra um corpo de uma mulher negra, também militante. 

Essa mulher negra mesmo diante de um santa inquisição, explicou didaticamente o que era o racismo, e o racismo institucional para essa pessoa. Inclusive, propondo uma formação antirracista para o movimento que essa pessoa militava e coordenava.

Mas, passados alguns dias ele retornou dizendo que não era possível e preferiu transformar a vítima do racismo, em uma pessoa que não estava entendendo o que se passou, algo típico da Branquitude. E iniciou o processo de dizer que tanto a mulher negra, como as pessoas que a apoiavam eram desequilibradas e pessoas sem ética.

Após ser confrontado, esse corpo que quase nunca é atacado, em vez de vir a público  pedir desculpas  pois era o mínimo a se fazer, começa a se utilizar do choro cristão como se fosse a vítima, e algumas pessoas e organizações/movimentos sociais começam a acreditar. Se entende, pois em uma sociedade racista e machista, entre a fala de um homem branco de fala mansa e uma mulher negra de fala forte, a tendência é o racismo prevalecer e a turma ir na conversa do branco.

A mulher negra sempre dizia que o sofrimento do racismo é vivido de forma individual, e que parte de pessoas (incluindo negras) e movimentos/organizações sociais que se dizem atuante na luta antirracista, não iria se manter ao lado dela, pois não foi com eles e elas, o que comprova que entre teoria e prática a um longo caminho. Vale aqui destacar que as pessoas e organizações e movimentos sociais que continuam firmes com essa mulher negra até hoje são colocados muitas vezes como sectários e sectárias.

Outra questão apontada por essa mulher era que com o passar do tempo, um país que sofre com apagamentos das nossas histórias e memórias, movimentos/organizações sociais e pessoas( inclusive negras) iriam esquecer o racismo por ele perpetrada contra ela.

E todo esse processo racista vivido por ela construído por uma pessoa dita antirracista.

O final desse conto é que enquanto hoje ele passeia tranquilamente pelos espaços da militância, essa mulher negra levará suas dores eternas em seu corpo: a memória de tudo que foi feito por ele contra ela e a certeza que o racismo acaba sendo algo das maioria das vezes vivido de forma individual e isolada, pois até parte dos movimentos , organizações sociais e pessoas com o passar do tempo esquecem o opressor, ainda mais se for militante e branco.

Privilégio é você ter produzido uma ação racista contra uma mulher negra e hoje circular tranquilamente nos espaços da militância como nada tivesse acontecido.

Como não sou um punitivista e luto contra isso, o mínimo que eu esperava no final desse conto, seria a responsabilização do opressor vindo a público pedir desculpas, como um ato de reparação simbólica, mas isso é conversa para um nova crônica.


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