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Por Monique Rodrigues


Na manhã do último sábado, dia 30.01.2021, familiares, amigos e integrantes dos movimentos sociais no Rio de Janeiro estiveram em Duque de Caxias para a inauguração do memorial em homenagem a Emily e a Rebecca, as duas meninas que brincavam na frente de casa, foram assassinadas pela polícia em mais uma incursão sem explicação como as que acontecem cotidianamente na baixada fluminense. Emily tinha 4 anos e Rebecca 7 anos. São dois meses sem resposta.

Foto: IDMJR

O direito à infância não existe para crianças negras e moradoras desses territórios. Isso fica muito nítido quando observamos os familiares das crianças relatarem essa tragédia que se repete historicamente. Dona Lígia, avó da Rebecca e tia da Emily trouxe reflexões fundamentais sobre a maneira como o Estado trata essa população.

“Aqui tem muita criança, temos pessoas trabalhadoras, na nossa época a gente brincava na rua o tempo todo, e agora a gente não pode deixar as crianças brincar, porque pode acontecer da polícia não parar e olhar antes de fazer o estrago dela. Eles matam, fazem o que querem fazer e depois falam que nós familiares estamos levantando falso. Aqui todo mundo viu o que aconteceu. Eu estava aqui, eu ouvi o tiro e só quem estava perto de mim era a polícia. Não houve troca de tiro.” 

O memorial chamado Muro da Emily e da Rebecca chama atenção para a negligência com que o caso das meninas vem sendo tratado, reacendeu o debate sobre a violência do Estado e a denúncia sobre a paralisação das investigações.

Renata, mãe da Rebecca, falou sobre a dolorosa espera de justiça. Ana, mãe da Emily, nos contou que a revolta é tão grande que falta força para falar o que ela vêm passando desde o assassinato das duas meninas.

Amigos das famílias também estavam presentes, assim como as crianças, primos, irmãos, coleguinhas da escola e das brincadeiras que toda criança deveria poder vivenciar. Embora emocionados e gratos, é inegável a dor silenciosa que atravessa o olhar dessas pessoas. 

Foto: IDMJR

O memorial surge como um alento para essa comunidade no bairro do Pantanal em Duque de Caxias. Ter o rosto das meninas em uma via pública, de amplo movimento é um constante grito de denúncia e uma forma de identificar que a vida da Emily e da Rebecca foi violentamente retirada pelo Estado, na execução da ação policial, e que essa tragédia não pode ser tratada apenas como mais um caso.

“Eu tô muito grata por esse memorial, ter o rosto das meninas aqui é muito importante pra todos nós” Ana, mãe da Emily é moradora do bairro Pantanal.

A garantia pelo direito à memória é parte fundamental da luta pela Justiça Racial pois funciona como um mecanismo de reafirmação constante de luta contra o processo sistematizado em racismo, de violação do Estado, sobretudo nesses territórios. O memorial Emily e Rebecca é uma homenagem às mães, familiares e amigos que estão no dia a dia enfrentando a tentativa de apagamento da história dessas duas meninas.

Assim como dito por muitas pessoas presentes, as palavras não conseguem expressar a dor pela morte tão precoce das crianças, esse memorial é também uma forma simbólica de justiça afetiva.

Foto: IDMJR

A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial reafirma a luta contra a violência de Estado que tem como alvo a população negra, pobre e periférica, somando voz aos familiares, amigos e aos movimentos sociais para fortalecer a denúncia contra o racismo e o extermínio diário que acontece nesses territórios, ressaltando que não será o Estado que mata, que irá construir uma política de garantia da memória, mas sim nós a partir de apoio mútuo, e do que conhecemos do Nós por Nós.

Nesse coro se junta também o Movimenta Caxias e o Movimento Favelas em Luta que produziram junto conosco e os familiares esse memorial. O nosso muito obrigada ao grafiteiro Mais Alto (@maisaltodabf) e a grafiteira Lu Brasil (@lubrasilart) que com seu trabalho artístico possibilita homenagear a memória e história negra na Baixada Fluminense.


One thought on “MURO DA EMILY E DA REBECCA: MEMORIAL, LUTA E RESISTÊNCIA CONTRA O GENOCÍDIO DE CRIANÇAS NEGRAS

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