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Por Equipe da IDMJR

O liberalismo iluminista propagava o lema:  Igualdade, Fraternidade e Liberdade, que antagonizava com o período medieval protagonizado pelos dogmas da Igreja. Mas, acabamos por omitir como o capitalismo se apropria deste lema e também apresenta a sua face mais cruel, o colonialismo, o racismo e a escravidão.

A dita igualdade e liberdade jamais será alcança por toda a humanidade dentro deste modelo de sociedade capitalista. Afinal, a garantia e proteção da propriedade privada é um direito inalienável no capitalismo. Logo, apenas os proprietários dos meios de produção, ou seja, historicamente a branquitude, pode disfrutar de direitos sociais garantidos à humanidade.

A maior parte da sociedade como, povos colonizados, povos não ocidentais, povo negro, trabalhadores, mulheres , LGBTQI+, favelados e periféricos ainda não são visto como sujeitos de direitos, sendo completamente colocados como meras partes disponíveis a exploração e expropriação de sua força de trabalho.

Dado esse contexto, conseguimos entender a latente produção de morte no capitalismo dependente brasileiro e em áreas predominantemente pretas não há limites para produção de morte cotidiana, como o caso de Belford Roxo. Em que a execução de corpos negros diariamente não gera comoção popular e nem visibilidade midiática.

Os processo de necropolítica que ocorreram ao longo de toda a história do capitalismo, atualmente apresenta novos contornos com a ascensão ao poder de setores conservadores, religiosos e ultraneoliberais. No Brasil, especificamente com a consolidação da política de segurança pública da Milicialização assistimos a uma ampla, total e irrestrita produção de mortes chancelada pelo próprio Estado.

E o que nos deixa mais tristes é que as parcelas mais precarizadas e que também são os alvos da política de produção de morte do Estado ainda aderem ao discurso do genocídio. Sendo essa narrativa legitimada pelo próprio Estado através da dita promoção da paz, inflada pela dualidade cristã que divide a sociedade em cidadão do bem e cidadão do mal consolidado por uma falso debate de guerra às drogas.

Até este momento, já são 22 pessoas assassinadas durante a implementação do destacamento da PM em Belford Roxo, recebemos informações que os corpos estão sendo retirados em carroças pelos próprios moradores. Já são mais de duas semanas de terror em Belford Roxo e que não tem perspectiva de acabar, haja vista, que o confrontos entre facções de tráficos e milícias para manter o domínio dos territórios já iniciaram e a população fica refém deste fogo cruzado.

Confira o infográfico que a IDMJR elaborou mostrando a cronologia e os principais impactos da megaoperação da PM realizada em comunidades de Belford Roxo. São semanas de terror, assassinatos, desaparecimentos forçados, torturas e agressões físicas em Belford Roxo.

Desde o dia 11 de janeiro de 2021, vem ocorrendo em  Belford Roxo no Complexo do Roseiral e adjacências uma operação policial com arsenal de guerra civil, foi a primeira vez que a região teve contato com algo deste porte.

Uma megaoperação policial que contava com vários blindados, caveirões, uma grande quantidade de policiais, a participação de diversos grupos táticos, como o BOPE, BAC e Choque.

Todo esse arsenal utilizado, segundo a própria polícia, foi para implantar o 1º Destacamento Policial do 39° BPM que ficará sediado no bairro do Roseiral, conhecido como Complexo do Roseiral. Serão 125 policiais atuando na região, aumentando o efetivo do 39º BPM de 379 para 504 agentes.

Vejamos alguns discursos produzidos por parte da população moradora de Belford Roxo perante a produção da morte acontecida entre dezembro até os dias atuais:

“ Morreu, pois devia, era bandido.”

“ A polícia tem que limpar a área mesmo, pois essa galera não é cidadão do bem.” 

“Você acha que quem fuma ou vende drogas do capiroto, deve viver?”

“Esse destacamento vai trazer paz”

Em dezembro ocorreram 42 operações policiais na Baixada Fluminense. Sendo, 22 operações policiais realizadas exclusivamente pelo 39ºBPM! Nesses 7 meses de execução da liminar, Belford Roxo foi o município mais afetado pela ocorrência de operações policiais. Fica uma dúvida: porque justamente os territórios que possuem domínio de uma facção de tráfico específica são os que mais sofrem com a realização de operações policiais?

Mas, o capitalismo tem brechas e rupturas, e a partir da vivência e da construção de outras epistemologias, parte dos moradores e moradores de Belford Roxo, se rebelaram e denunciaram a produção da morte e disseram:

“ Basta, não podemos aceitar execuções qualquer que seja as pessoas.”

“ A polícia vem aqui, pega algumas trouxinhas e um fuzil e causa essa violência toda. Isso não é justificativa.”

“Como pode parte das pessoas acharem que , o que a polícia falou, de que é melhor quem for do bem, ficar em casa, pois se tiver na pista pode rodar.”  

Mitigar a necropolítica no Brasil , sobretudo em territórios como a Baixada Fluminense requer a construção a médio e longo de ações que caminhem para o Abolicionismo das Polícias¹, concomitantemente com o fim do capitalismo estruturado no racismo e no patriarcado.

As denúncias que a IDMJR fez a ONU e Comissão Interamericana dos Direitos Humanos² sobre a produção da morte em Belford Roxo só foi possível pelo diálogo estabelecido com moradoras de Belford Roxo e o não aceite mais do SILENCIAMENTO como sobrevivência, pois se calar é morrer e se anular.

A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial reafirma a luta contra a violência de Estado que tem como alvo a população negra, pobre e periférica, somando voz aos familiares, amigos e aos movimentos sociais para fortalecer a denúncia contra o racismo e o extermínio diário que acontece nesses territórios, ressaltando que não será o Estado que mata, que irá construir uma política de garantia da memória, mas sim nós a partir de apoio mútuo, e do que conhecemos do Nós por Nós.


¹https://www.8toabolition.com/

²Confira aqui mais informações sobre as denúncias internacionais.

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