
Por: Monique Rodrigues
Iniciamos 2022 abrindo a agenda da IDMJR para atividades de roda de conversa e exibição do filme documentário “Nossos Corpos são Nossos Livros”, produzidos pela Iniciativa, que debate desaparecimentos forçados na Baixada Fluminense. Nesse contexto apresentamos, na última segunda feira (15) o filme no espaço Gato Negro Pub em São João de Meriti.

No espaço de um bar, uma galera bem diversa se junta para assistir filmes e refletir questões bem complexas que atravessam os corpos que transitam nesses territórios.
O filme suscita muitas reflexões, que estão ancoradas nas relações de violência do Estado, que a Iniciativa debate como estrutura principal de produção de opressão e violência contra o povo negro, periférico e constantemente criminalizado pelas inúmeras narrativas hegemônicas. Isso ficou muito evidente no debate que seguiu posteriormente à exibição. Inúmeros relatos do aumento da violência doméstica, genocídio da população jovem e negra, encarceramento em massa, aumento de uma banalização da violência de uma forma geral, em um diálogo muito direto com o conteúdo do filme e a necessidade de enfrentamento na estrutura da formação social brasileira.
“A população LGBTQIA+ sofre por inúmeras violências, desde os assassinatos diretos até a negação da certificação que nos registros constam, quase sempre como morte presumida, e quando desaparece muitas vezes não tem a família para procurar, nem cobrar, é sempre a própria comunidade que fica ali em torno para essa pessoa não ser considerada indigente.”
(Participante da Atividade)
Esse cenário é muito comum nos relatos de desaparecimentos forçados, mas também nos períodos seguintes quando as estruturas do Estado corroboram com o desaparecimento, desconsiderando esse corpo como passível de cidadania.

“Aqui na Baixada é diferente porque a gente enfrenta muitos casos de violência e não tem a quem recorrer, porque na maior parte das estruturas o descaso é muito grande. A gente sofre com a subnotificação e a falta de documentação é muito grande, se você andar por alguns bairros vai encontrar muita gente que não tem documento de identidade, como faz em um caso como esse se essa pessoa desaparece?”
(Participante da Atividade)
Por outro lado, um espaço como o Gato Negro Pub se apresenta como uma arena de resistência, onde as pessoas encontram um espaço saudável, seguro e descontraído para um construção de diálogos que fortalecem nossas lutas.
“Um filme como este é muito importante para a Baixada e ele apresenta o tema de forma muito sensível e a gente sabe que isso sempre aconteceu aqui na Baixada, mas como nós sofremos com a invisibilidade, quase não se fala de desaparecimentos.”
(Participante da Atividade)
A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial vai rodar a Baixada Fluminense em uma série de atividades como esta , acompanhe nossas redes e venha dialogar com a gente. Nosso muito obrigada à equipe Gato Negro Pub pela recepção, carinho e acolhimento, o cineclube acontece toda 2° segunda feira do mês, a partir das 19h. Obrigada também ao público presente que contribuiu muito com o debate da IDMJR. Cola lá galera.
