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Por Fransérgio Goulart e Giselle Florentino


Em apenas 13 dias do mês de fevereiro as polícias já assassinaram 20 pessoas na Baixada Fluminense em apenas 1 operação policial, uma letalidade policial que reforça a barbárie produzida pelo Estado.

Por isso, precisamos compartilhar uma reflexão de que como parte de uma branquitude acadêmica construiu e constrói alicerces para esta constante produção de morte.

Se observamos o histórico da produção acadêmica sobre segurança pública, veremos uma hegemonia da branquitude. Entretanto, a partir dos anos 90, negros e periféricos têm produzido um conjunto de trabalhos que versam sobre o lugar do branco na sociedade, um avanço que só foi possível a partir das políticas de ações afirmativas nas universidades.

Precisamos parar de pesquisar o oprimido e suas dores e deslocar o nosso olhar para o arsenal de instrumento do opressor de produzir morte e dor, como nos ensina a sociologia negra marxista de Clovis Moura.

Ao falarmos de enfrentamento ao racismo se faz necessário olhar a atuação do corpo branco e como até mesmo a dita branquitude progressista também produz a manutenção das opressões e continuidade dos privilégios.

Estudos críticos têm se ampliado sobre a branquitude sobre diversos temas, mas no campo da segurança pública ainda há uma lacuna de produções, por este motivo estamos fazendo este debate enquanto Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial.

Antes mesmo de olhar as produções acadêmicas da branquitude sobre segurança pública precisamos afirmar algumas questões:

  1. Queremos denunciar o punitivoso e o racismo que alimenta a projeção do branco sobre o negro, bem como a rasura de pactos narcísicos. 
  2. Ao não silenciarmos o debate sobre o branco e a branquitude estamos construindo o enfrentamento a herança branca da escravidão e o lugar da branquitude como depositária de um sistema histórico que inviabiliza a produção acadêmica de negros na sociedade.
  3. Precisamos destruir a narrativa hegemônico-colonial-branco-patriarcal- heteronormativa-cristã.

Ressaltamos abaixo alguns pontos de análise problemático na produção da branquitude sobre segurança pública:

  1. Defendem até de certa forma arrogante, a capacitação/formação de policiais como um caminho para mudar a instituição polícia. O que impossibilita a compreensão da problemática estrutural sobre a fundação e o objetivo da função social das polícias. Vale aqui salientar que a maior parte das tropas policiais são formadas por negros e periféricos, ou seja, ao alimentarmos o culto da formação jogam para o próprio corpo negro a responsabilidade de mudar a estrutura, isto beira a perversidade.
  2. Adoradores de protocolos e medidas de segurança que só legitimam a atuação de confronto das polícias. E entendendo que Estado é o detentor e tem o monopólio do uso da força e da narrativa oficial, apenas reforçam que uma margem de brutalidade e assassinato é aceitável. Já que tudo dentro do protocolo previamente estabelecido está  correto e quem não concordar acione o sistema judiciário. Justamente o Judiciário que está a serviço da defesa dos privilégios da branquitude e do capitalismo e da legitimação das violações do Estado.
  3. A branquitude dita progressista só consegue chegar até a proposta da reforma da polícia. Com o discurso da reforma da polícia, adormece o ódio latente de negros e periféricos de lutar pelo fim das polícias. Lógico que entendemos que a pauta da reforma para a branquitude acadêmica faz sentido, pois para este grupo a polícia protege e garante o privilégio principalmente os materiais desta classe.
  4. A intencionalidade da Branquitude Acadêmica de não discutir Estado e relações milícias e varejo de drogas como questão de Segurança Pública, ao falar apenas de polícias.
  5. Não desejam construir nada fora dos marcos da democracia neoliberal que nos assassina e encarcera cotidianamente, pois para eles esta democracia faz sentido.

Este texto é uma convocação para a branquitude acadêmica, principalmente a dita progressista e aliada se olhar e perceber em como tem contribuído para esta produção de morte. Como ja disse o pesquisador negro Ronilso Pacheco, o fim do racismo só será possível com o fim da branquitude.


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