
Por Monique Rodrigues
No último sábado (27), a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial lançou o filme documentário “Nossos Corpos São Nossos Livros” no Espaço Enraizados, em Morro Agudo. O filme é uma produção da IDMJR, dirigido pela Cineasta Janaína de Oliveira que narra a condição dos desaparecimentos forçados, vividos historicamente por inúmeras famílias na Baixada.
Contando com a presença de familiares, vítimas dessa que também é uma violência de Estado, o filme traz depoimentos contundentes sobre essa condição.

No relato de uma mãe que encontrou sozinha o corpo do filho desaparecido, repercute a fala: “Eu não confio no Estado porque ele desapareceu com meu filho, e eu tive que ir procurar, sozinha, porque se dependesse do Estado ele tava sumido até hoje.” (mãe vítima de violência). Assim como algumas mães presentes também trouxeram a mesma experiência:
“Quando a gente encontra o corpo do filho no estado de decomposição, e ainda tem que provar a inocência dele, eu tive que ir na escola do meu filho pegar um comprovante de que ele estava matriculado e que ele não era nenhum bandido.”(mãe vítima de violência)
A narrativa que escutamos no debate junto ao público é de casos de assassinatos e desaparecimentos que aconteceram há anos e ainda seguem sem solução. O filme é também uma tentativa de diálogo contra a naturalização dessas mortes e da violação constante do Estado, no genocídio na Baixada Fluminense.
“Esse filme é muito importante de ser passado nas escolas, por exemplo, para que seja debatido o capitalismo, o racismo, a violência que a população da baixada sofre e que não é vista. “ Luiz Bruno






Essa é a segunda exibição do documentário e escutamos sempre a reflexão de invisibilidade desses casos em relação aos desaparecimentos que acontecem em outras áreas. Nas estatísticas apuradas pela IDMJR e que compõe os dados apresentados no filme, a maior parcela dos desaparecimentos são na Baixada, e reflexão como a relação dos grupos de extermínio e milícias, cemitérios clandestinos e ação de não apuração dos casos aparecem como o modus operandi do Estado nesse território. A cada debate sempre um novo caso é exposto com o mesmo descaso por parte das estruturas governamentais.
“É importante que as mães e vítimas de desaparecimentos forçados, e de toda violência de Estado, falem dos seus casos, da sua experiência e da forma que elas são tratadas.” (Mãe vítima de violência.)
O trabalho que as redes de solidariedade e acolhimento fazem também foi um tema bem debatido entre o público presente. Identificar que as mães e familiares cumprem o papel de cobrança incansável, sendo que muitas dessas pessoas tem a certeza da não resolução dos casos foi recorrente nas falas.
“O Estado não quer saber, não investiga e ainda criminaliza nossos filhos, nossos parentes.” Irmã de vítima da chacina da baixada
Ademais, Talison Vasques do Coletivo Negro Minervino de Oliveiro reiterou que é importante a disputa de construção de conhecimento, principalmente com pesquisas construídas pelo nosso povo.
Reafirmando um compromisso com a Baixada Fluminense como contexto central do trabalho da IDMJR informamos que no próximo ano, a agenda de exibições do documentário “Nossos Corpos são Nossos Livros” percorrerá alguns espaços independentes nos territórios pela baixada. Se você faz parte de algum coletivo e está interessado nesse debate, entre em contato com a gente pelas redes sociais.
A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial agradece ao Instituto Enraizados por abrir as portas do lançamento do filme no seu espaço de quilombo e articulação cultural. Agradecemos imensamente a presença de todos, todas e todos, sobretudo as mães e familiares vítimas de desaparecimento forçado e violência de Estado. Como disse um participante: “Que esse filme seja exibido por toda a baixada pra abrir os olhos e o debate das pessoas para o fim do genocídio.”
`É também o nosso desejo.