
Por: Fransérgio Goulart e Giselle Florentino
Para a IDMJRacial, uma organização que atua no enfrentamento as violações de Direitos Humanos. O Moïse não foi assassinado apenas por homens brancos, a morte dele é responsabilidade do Estado.

E por quê?
1) O Estado brasileiro ao receber migrantes, sendo refugiados ou não, não promove políticas de acesso e inserção social para essas pessoas. Em caso de migrantes africanos, ainda contam com o racismo estrutural deste país que impede qualquer tipo de interação social do corpo negro sem ser criminalizado ou estigmatizado.
2) O Estado produz uma leitura social do corpo negro sendo exclusivamente para executar trabalhos braçais em subempregos, na informalidade, sem direitos sociais garantidos e com baixos salários. No caso de migrantes, a situação é ainda mais grave pela falta de documentação e a barreira do idioma.
3) A área que o quiosque estava localizada é dominada por milícias, sendo o próprio dono do quiosque um Policial Militar. Sem nenhum tipo de legislação trabalhista, explorava o trabalho de pessoas e ainda as ameaçava.
Logo, dado todo esse cenário de desleixo e ausência intencional de cuidados com migrantes, somada a situação de uma cidade conflagrada pelo poderio das milícias, o assassinato do Moïse é responsabilidade do Estado Brasileiro.
Mas, boa parte dos movimentos e organizações sociais a partir de uma leitura punitivista e sem aprofundamento do funcionamento estrutural do racismo no capitalismo, desejam a punição de forma individual no caso do assassinato do Moïse. Esta análise superficial e o enquadramento criminal construído pela branquitude não enfrenta a totalidade da problemática do genocídio do cotidiano do povo negro e nem arranha a estrutura do racismo neste país.
A cada nova notícia de pessoas negras assassinadas pedimos mais polícia nas ruas e mais participação do judiciário. Porém, entendemos que essas instituições foram fundadas para promover a nossa morte, o direito é utilizado como instrumento de legitimidade das violações que este Estado comete todos os dias.
Obviamente, não devemos abrir mão de acionar as instituições do aparelho estatal. Mas, precisamos ter consciência que estas instituições apenas promovem margens para redução de danos. Uma coisa é usar estrategicamente o aparelho estatal, como Malcolm X acenou, outra coisa é acreditar na como uma possibilidade de reforma e melhora desta estrutura como parte de um projeto político emancipatório.
A realização de um ato popular exigindo justiça é sim importante e bastante simbólico sobre a indignação do povo negro para com um Estado genocida, branco, heteronormativo, cristão e patriarcal.
Não podemos parar apenas na mobilização de pessoas na ruas e na construção de um memorial. A única saída para manter a sobrevivência do povo negro é a construção de uma alternativa de vida autônoma e fora dos marcos do capitalismo. Esta justiça branca e burguesa não nos contempla. Justamente porque foi fundada para impedir levantes populares e proteger um modo de produção de vida tacanho e assassino.
Ficamos sempre com a impressão que nossa luta é por visibilidade midiática – ainda mais em um ano eleitoral, que estamos mobilizando a opinião pública e não temos um projeto político de unidade para pôr fim de forma estrutural as violações que são cometidas com o nosso povo. Não temos tempo para a ilusão de que um dia seremos inseridos e humanizados neste sistema. Precisamos romper com as amarras das opressões, com as propostas individuais e meritocráticas da dita ascensão social e pautar um projeto político efetivamente coletivo e emancipatória para todes.
Lógico que estamos preparados para sermos atacados e colocados como radicais. Para nós, da IDMJRacial, isto é sinal que estamos na construção de um projeto político autônomo e coerente. Bem distante das disputas de poder, sem participar de negociatas políticas e acima de tudo comprometido com a classe trabalhadora. Nossa única responsabilidade política é com os ideais do nosso povo.
E por fim, toda solidariedade a mãe e a toda família de Moïse. Seguimos juntes, combativos e ingovernáveis.
Nossos mortos têm Voz
Moïse Presente
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