
Por Monique Rodrigues
A Baixada Fluminense traz no seus processos históricos as desigualdades estruturais que são relegadas pelo Estado para esses territórios. A constante criminalização da negritude, as ações organizadas de extermínio e a culpabilização do povo, diante tragédias cotidianas que não conseguimos dimensionar, a Baixada é também um território onde a política da morte está sendo atualizada nos contextos de discurso, prática e narrativa.
Afirmamos isso porque as pesquisas que realizamos sobre violências provocadas pelo Estado, sobretudo o feminicídio e genocídio negro, aparecem com indicadores altíssimos na Baixada Fluminense.
A resposta do Estado tem sido a apreensão de drogas e armas como justificativa para constantes confrontos dentro dos bairros, então precisamos falar sobre essa temática complexa e sensível.

Partindo dessa premissa lançamos o projeto Política de Drogas, Racismo e Saúde que terá 03 eixos: um de pesquisa, um de comunicação, e o outro de mobilização/formação. Esse último eixo iniciou se com a Residência com as Juventudes Negras Moradoras da Baixada.
A RESIDÊNCIA, esse processo que envolve Mobilização/Formação das Juventudes é composta de uma série de ações para debater drogas, racismo e saúde, com foco na juventude das periferias e baixada procurando construir um diálogo diverso acerca dessas construções sociais. No último sábado, dia 26.06, reunimos online uma turma com 21 jovens, artistas, estudantes, mobilizadores e trabalhadores que estão procurando outras formas de pensar questões complexas que estão presentes no cotidiano dos seus lugares de vida.
O projeto tem o acompanhamento da educadora Patricia dos Santos Silva, educadora no território da Baixada Fluminense, ela dialoga de forma direta com a juventude. Os participantes apresentaram inquietações que devem ser levadas a sério, pois impactam de forma definitiva as perspectivas destas juventudes na ação coletiva contra as desigualdades sociais e raciais da baixada.
“A residência com jovens moradores/as da Baixada Fluminense sobre Política de Drogas, Racismo e Saúde, traz um olhar sensível e mobilizado para abordar os temas difíceis de falar em territórios tão violentados diariamente. E ver no primeiro encontro jovens de diferentes perspectivas, querendo contribuir para avançar, sair e furar as bolhas que o sistema opressor coloca eles é de aquecer o coração de esperança no processo de luta em busca de uma relação igualitária em sociedade .” (Patrícia dos Santos)
As Juventudes presentes trouxeram que debates sobre a indústria de armas e drogas, a questão da heteronormatividade, a escuta de quem é usuário/a de drogas, são imprescindíveis nessa discussão.
A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial abre mais uma possibilidade de debate, que atravessa de forma estrutural e bem organizada a segurança pública na sua gestão da morte. Com indicativos reais sobre a racialização do território, as desigualdades legislativas, a política de ausências e a criminalização histórica, buscaremos provocar reflexões na tentativa de ampliarmos olhares sobre esses temas e mais ainda mobilizar a juventude em processos coletivos de emancipação do nosso povo.
Por fim vale salientar que após o processo de residência os/as jovens que desejarem irão construir uma Grande Campanha de Comunicação sobre o tema junto com a IDMJR e a organização Movimentos.