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Por Equipe IDMJR

Na última sexta- feira, dia 23 de Outubro de 2020, completou 3 anos que o adolescente Fernando Ambrósio foi assassinado pelo Estado em uma operação do Bope, através da constante violência policial comandada pelo Estado que promove tragédias cotidianas na Baixada Fluminense.

No bairro Lagoa do Sapo em Japeri, onde Fernando morava, a família Bicó e amigos se reuniram para a construção do memorial Fernando Ambrósio em homenagem à luta e saudade que move essa comunidade junto com a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial e o Observatório de Favelas.

Não existe palavra que possa dar conta da dor que essa família enfrenta todos os dias. Paloma, prima de Fernando, fala do adolescente em um misto de saudade e revolta:

“Foi horrível porque o Fernando era um menino de bom coração, que só saía de casa pra escola, ou pro futebol, e vir pra casa. Foi uma crueldade muito grande, porque a gente nunca acredita que vai acontecer com alguém da nossa família. Cansamos de ver na televisão, mas nunca imaginamos que fosse acontecer com a gente. As pessoas falam que com o tempo vai amenizar, pelo contrário só piora, a dor vai aumentando a saudade é maior ainda, e na questão da justiça que ninguém dá uma resposta de nada. E sinceramente estamos aqui sem resposta.

“Ele era um menino muito alegre, vivia dançando, perturbando a gente, é muita saudade.”

A memória que se compartilha na luta contra os assassinatos em massa nas periferias, subúrbios e favelas é um elo que as mães constroem a cada dia e a cada ação. Vestido uma camiseta com a foto do filho, Paula, mãe do Fernando, é uma mãe que denuncia diariamente a violência de Estado. Nesse triste dia, ela vê completar mais um ano sem a presença do seu filho, sem nenhuma resposta concreta e com uma imensa saudade, ela lança sua voz para não deixar que a impunidade apague a história de Fernando. 

“Meu filho foi morto, ele era inocente, eu vou enfrentar tudo para não deixar que a lembrança dele acabe.”

A IDMJR promoveu junto com a família Bicó e o Observatório de Favelas essa ação que utiliza o grafite com suporte para acolher e homenagear a luta das mães e familiares que são vitimados pela violência de Estado por acreditar que são esses movimentos coletivos que fazem a resistência contra o esquecimento e pela busca de justiça.

Na Baixada Fluminense onde é tão naturalizada a morte, essas famílias continuam suas vidas reconstruindo na dor da ausência seu dia a dia de enfrentamento. Uma ação como o memorial em forma de mural na parede principal da casa onde o Fernando vivia é um símbolo muito forte de não esquecimento e de reconhecimento. A organização das mães e familiares é importantíssima para a garantia da luta e deve ser vista como uma demanda real que devemos participar e fortalecer sempre. 

“Não há justiça enquanto o assassino estiver fardado.”

(Paula, mãe do Fernando Ambrósio)

Aline Maia, que atua no Observatório de Favelas, acredita que essas atividades têm uma dimensão ampla para a sociedade: 

“Esses eventos são importantes porque eles suscitam o direito à memória que é um elemento importante na luta por justiça, que essas famílias e toda comunidade vem travando. Esses eventos nos mostra nova estratégias para falar sobre política, sobre participação política, cidadã e democrática, eu acho que nós temos que aprender com os familiares, com as mães sobretudo, e com as comunidades que estão reinventando formas de falar da sua dor através da luta e utilizando elementos criativos como a arte, o plantio de mudas, é um processo que vem pra desnaturalizar a letalidade violenta.” 

A maternidade para essas mães é refeita para lutar contra o esquecimento dos seus filhos e pela justiça que não funciona para todas as pessoas. A Baixada Fluminense continua sendo um território constantemente violado pela violência de Estado, e só a organização coletiva pode fazer o enfrentamento, a denúncia e a resistência contra a política de morte definida para essas famílias.

Fransérgio Goulart – Coordenação Executiva da IDMJR diz que a realização do memorial intitulado de “Muro do Fernando” na tarde do dia 23, mostra toda a resistência da família. E que na manhã deste dia tão simbólico, o 24º BPM realizou uma operação policial executando outro jovem e deixando uma pessoa ferida.

Além de trazer a tona todo o trauma de 03 anos atrás, quando ocorreu o assassinato de Fernando, sua mãe Paula indicou a importância de manter a inauguração. Pois, o Estado tenta nos silenciar todos os dias.

Assistir a realização do memorial é ter a certeza que seremos a resistência, cotidiana e combativa. Sempre reafirmando, que seremos vozes de Fernando, Cláudia, Rodrigo e tantos outros e outras dos nossos e nossas. 

Agradecemos imensamente a oportunidade de fazer parte desse memorial, aos amigos e familiares do Fernando que estiveram presentes, ressaltando o trabalho do grafiteiro Klebert Black (@klebertblack) e lançando nossa voz junto com a Paula, familiares e amigos.

Fernando Presente!


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