
Por: Equipe IDMJR
Enfrentar o racismo e o sexismo é a grande ordem histórica das mulheres negras em todas as relações sociais, e sobretudo pelo atravessamento que a escravidão instaurou como prática coletiva. No tratamento de opressão, violência e subjugação dispensado na diáspora, as mulheres negras estão na dianteira das resistência e ressignificações.
Não podemos deixar de apontar as contradições que esta luta coloca sob o corpo das mulheres negras, que sendo a maior parte da população, compõe também um quantitativo de pessoas que não têm o aprofundamento sobre a estrutura dos processos opressivos mas produzem conhecimentos fundamentais na luta cotidiana.

Instaurado em 1992, a partir do encontro de mulheres negras, latino americanas e caribenhas que aconteceu na República Dominicana, motivadas pelo contexto de união contra a exploração de gênero, o racismo e o sexismo, essa data marca a tentativa de conjunção de mulheres negras em diferentes locais e países, tendo como denominador comum as violências estruturais definidas pelo patriarcado e racismo.
Tereza de Benguela, líder quilombola, que à frente do Quilombo Quariterê organizou a comunidade nos confrontos contra a escravidão, foi escolhida como figura para ser homenageada também nessa data. Estas junções nos leva a refletir a presença das mulheres negras na ação de revolução cotidiana pela garantia da existência dos povos negros. Durante todo curso histórico o registro da ação de mulheres negras é presente, configurando um panorama de realizações transformadoras para a cultura negra na diáspora.
As populações LGBTQIA+ são igualmente existências em constantes vulnerabilidades que são colocadas unicamente nos recortes de violência, marginalização e criminalização. Mulheres negras trans, travestis e lésbicas enfrentam um ordenamento social que legitima toda desumanização, sendo a luta por ser vistas como pessoas, a grande ação que esse grupo demanda nas lutas coletivas.
Deixamos algumas perguntas, que também nos fazemos sempre, para reflexão: Quantas pessoas LGBTQIA+ estão no seu ciclo de amigos? Quais ações a coletividade cisheteronormativa mobiliza dentro das atuações de direitos humanos para dialogar com essa população? Quais relações definimos para LGBTQIA+ negras de forma naturalizada?
A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial centra suas ações e construção de conhecimento na Baixada Fluminense, apontando que esses territórios são, no seu quantitativo populacional, formado por maior parcela de mulheres negras, trabalhadoras, chefes de família, mães, que também exercem o papel de liderança frente às demandas sociais urgentes dos bairros, comunidades e favelas onde moram.

Mulheres negras, latino americanas e Caribenhas, tendo Tereza de Benguela como elo entre ação e coletividades, existem atuando dia a dia dentro dos seus territórios, e fazendo uma diferença fundamental para a vida de inúmeras pessoas que não sabem como recorrer em casos de violação de Estado, racismo, violências contra a mulher, abandono e tantas mazelas que são naturalizadas nas periferias, favelas e subúrbios. O dia de hoje é um rememorar sobre a capacidade de nos juntarmos em ação, ao mesmo tempo em que se mostra como denúncia sobre a constante ordem de genocídio para com esses territórios.
Esse ano em alusão ao dia 25 de Julho das Mulheres Negras, latino americanas e Caribenhas, estamos apresentando mulheres negras que produzem lutas em territórios militarizados pelo Estado a partir dos braços das Polícias, milícias e varejo de drogas.