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Por: Fransérgio Goulart

Depois do assassinato de mais um negro por forças de segurança, o João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos no Carrefour no Rio Grande do Sul, vários atos aconteceram, e esses atos trouxeram novamente a discussão de pacifismo em protestos populares ou não.

Foto: Deutsche Welle. Protestos contra a Violência Policial na Bielo-Rússia, as manifestantes estão usando flores para exigir mudanças.

Ressalto que o discurso pacifista observado, por nós, da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial é oriundo dos privilégios da própia branquitude, que têm seus corpos historicamente resguardados e intocáveis nessa sociedade. Por isso, afirmamos que esse discurso pacifista pode representar mais do que uma simples narrativa e sim mecanismos de manutenção de privilégios através da contenção das revoltas populares.

O discurso pacifista da branquitude está a serviço do capital, principalmente quando exerce o controle nos corpos negros e/ou periféricos para impedir qualquer tipo manifestação contrária a ordem. Está cada vez mais difícil o fomento de insurreições, revoluções e resistências armadas, devido toda a cooptação dos movimentos sociais na diplomacia do capital. Em que o resultado foi o apaziguamento das lutas sociais devido ao comprometimento com as negociatas nas esferas governamentais e institucionais. Em que nos tornamos refém de uma única forma de fazer a luta: através do diálogo.

Logo, deixamos de lado outras formas de insurgência e desobediência civil, inclusive não mais acionando o nosso ódio como combustível revolucionário e desejo de pôr fim a este modo de sociedade em nome de um frágil e limitado consenso entre classes.

Em nenhum momento na história as mudanças, rupturas e revoluções foram feitas exclusivamente com diálogo entre as partes. Até na tão falada Revolução Indiana, enquanto Gandhi fazia a diplomacia internacional, ingleses e indianos guerreavam no oceano.

“Não confunda a reação do oprimido com a violência do opressor.”

Malcolm X

Ademais, no Capital, Karl Marx já apontava que a violência é uma espécie de parteira da história, na construção de novas sociabilidades. Logo, faz parte do processo de ruptura. O próprio Malcom X – entre outros comunistas e anarquistas, ressaltou que ninguém é partidário da violência. Mas, que a devemos encarar como uma “legítima defesa” para os oprimidos, pois trata-se de tão somente uma reação a violência estrutural do capitalismo.

Por isso, não devemos rejeitá – lá, em absoluto. E sim, vê-lá como reflexo e consequência da luta de classes em diferentes contextos e conjunturas.

Com a queda do muro de Berlim, cresceu também o ceticismo quanto à revolução proletária e a crença no pacifismo inundou o imaginário mundial. Um fomento da completa negação do uso da força contra os opressores, sem oferecer um caminho concreto para a superação da barbárie capitalista.

Por fim, considerando o método marxista, podemos afirmar que a história mostrará se uma transformação radical pode ser atingida por meios idealistas, como a conciliação pacífica de classes, ou por uma luta de massas, dialeticamente amparada nas experiências históricas, e sangrenta se necessário.

No Brasil com a chegada do PT ao governo tivemos uma tentativa de conciliação de classes que só veio ampliar e potencializar a militarização e o genocídio do povo negro.

A branquitude que compõe a dita esquerda, ainda acredita que é muito possivel resolver seus problemas somente no diálogo com as estruturas histórica de opressão do capital. Afinal, esses grupos também estão dentro da máquina de violação de Estado e não são os inimigos construídos historicamente por esse Estado.

O sistema capitalista se estrutura na racialização dos povos e sua subjugação ao poder colonial através de violência extrema. A economia capitalista prospera na produção das guerras e pelos muitos mercados abertos através da produção e venda de milhões de armas de alta tecnologia.

A branquitude não experimenta o cotidiano de violência capitalista que as pessoas negras, faveladas e periféricas enfrentam ao longo de toda a vida. Por isso é sempre mais fácil pensar em diálogo, consenso de classe e luta interna do Estado, já que seu povo não está na mira do fuzil do Estado.

A branquitude defende a reforma da polícia e que essas são “forças da paz”. E qualquer tipo de luta que não seja institucional ou dento dos moldes da burguesia são vistas como imorais, badernas e vândalismo.

Por isso é tão importante compreender que o pacifismo verbalizado por essa Branquitude é apenas mais uma forma de controlar movimentos de Insurgência contra o Estado Capitalista. Já que desejam apenas a manutenção da hegemonia supremacista branca com a garantia da continuidade de seus privilégios.

“Independente de onde cada um de nós se encaixa na escala da psicose, uma coisa é certa: todos temos um arquivo dentro de cérebro com uma gaveta repleta de sentimentos agressivos contra aqueles que julgamos responsáveis por nossa situação de vida. Eu, mesmo não me considero ultra violento, mas guardo nos meus arquivos pessoais muita revolta e ódio contra os inimigos naturais dos homens pobres. Tenho uma aversão incontrolável aos políticos, a polícia e aos abastados que se abstém de suas responsabilidades sociais.”
(Trecho do livro “A Guerra não Declarada na Visão de um favelado” – Carlos Eduardo Taddeo, popularmente rap e escritor Eduardo ex Facção Central)


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