
Por: Equipe IDMJR
Na última sexta-feira, Emilly Victoria, de 4 anos e Rebeca Beatriz , de 7 anos, foram vítimas da dita bala perdida, vindo a óbito. Com mais essas duas mortes, chegamos a 12 crianças mortas por bala perdida na Baixada Fluminense-RJ. Para Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial essas mortes são responsabilidade do Estado e que não devemos cair na armadilha da dualidade: se foi polícia ou tráfico que dispararam.

O assassinato de duas crianças gerou a revolta e indignação dos familiares e também dos moradores locais. Os últimos dias foram de dor e lágrimas. Mas, de muita força e luta de familiares para afirmar que irão garantir Justiça e Memória para Emily e Rebeca.
Desde sexta-feira, familiares e moradores apontam e afirmam que o tiro veio da polícia mesmo sem ocorrer nenhum tipo de operação policia naquele momento.
“Sempre eles passam e mandam tiro pra dentro da comunidade.”
(Morador de Duque Caxias)
No ato de ontem que a Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial acompanhou, o que pudemos ver foi o protagonismo dos familiares, dos moradores e coletivos e organizações da Baixada Fluminense .
“A Baixada existe, o restante do Estado do Rio de Janeiro e a Branquitude tem que saber disso!”
(Militante do Movimento Negro)
A Mobilização foi grande e a família e moradores chegaram em um ônibus fretado. As Organizações Sociais. como Movimenta Caxias, IDMJR, Movimento Favelas em Luta, Rede de Comunidades e Movimento contra a Violência, Rede de Mães e familiares vítimas da Violência do Estado na Baixada Fluminense, MNU e outros apoiaram o ato durante todo o tempo.
Cerca de 200 pessoas ficaram por duas horas na Praça do Pacificador em Caxias gritando por Justiça, Justiça e Justiça.

Para Marcelle Decothé, Coordenadora do Instituto Marielle Franco e militante do Movimento Favelas em Luta, ontem foi o dia que estivemos reunidos junto as famílias de Emily e Rebeca no centro de Caxias, crianças que tiveram suas vidas interrompidas, mais uma vez, pelo braço armado genocida do estado gritando pelas nossas vidas por si só foi histórico, pois lidou com a invisibilidade da Baixada Fluminense. Uma face cruel que entendemos enquanto política de extermínio, que é o apagamento da memória de nossas vítimas, trata- se de mais uma estratégia do Estado que aniquila nossa humanidade.
Marcelle afirma: “Seguiremos do lado das famílias buscando justiça e reparação, seguiremos nas ruas gritando que nossas vidas importam e sei que um dia deixaremos de reconhecer nossa Baixada pelo adjetivo “cruel”, a Baixada é feita de Emily’s e Rebeca’s, nao daremos nenhum passo atrás em nossa luta.“
Durante o ato, Ana Lúcia Silva Moreira, mãe de Emilly reafirmou que não havia confronto, nem operação policial, nem tiroteio na comunidade antes de a filha ser morta e que só a polícia atirou momentos antes das meninas fossem atingidas.
“Eles só sabem fazer isso, dar tiro. Olhou, dá tiro. Quando percebi, eu só peguei o documento. Porque eu já sabia, minha filha já estava estirada. A minha filha levou tiro de fuzil na cabeça.”
Para Wesley Teixeira, do Movimenta Caxias, o ato mobilizou a favela, onde a família foi protagonista e colocou a sua voz e também fez o Brasil e a região metropolitana saber do caso, trazendo a visibilidade de que o caso de Emilly e Rebeca não trata- se de um caso isolado, mas de uma política de segurança produtora de morte cotidiana da Baixada Fluminense-RJ. A Baixada existe e foi vista!

Fransérgio Goulart, Coordenação Executiva da IDMJR, confirmou todo o protagonismo dos familiares e dos Movimentos e Organizações da Baixada e ressaltou o apoio de movimentos e coletivos oriundos de outras favelas do Estado do RJ presentes como: CDD, da Rocinha, da Vila Kennedy, Jacarezinho, Borel, Maré e Complexo do Alemão durante todo ato. A notícia triste – mas nada surpreendente, foi a comprovação do racismo da Branquitude que não comparece quando a população negra é alvejada, afirma o Coordenador da IDMJR.
Ao final do ato as organizações e os movimentos Movimenta Caxias, Voz da Baixada, Movimento Favelas em Luta, Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, militantes da Baixada-Fluminense-RJ, do Complexo do Alemão, CDD e Rocinha realizaram uma reunião de avaliação e planejamento para continuidade da luta por justiça e memória, mas sobretudo para a continuidade do apoio aos familiares.
A reunião acabou já eram 19:15 mas com duas certezas: o apoio irrestrito aos familiares e a outra que o Estado que nos mata cotidianamente não terá um minuto de sossego.