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Por Fransérgio Goulart


Após os duros e sangrentos anos de ditaduras militares em toda a América Latina, a instalação do período democrático não impediu o modo de produção capitalista de manter a ordem burguesa e sua acumulação do capital, bem como, manutenção dos privilégios de determinadas classes e raças através do período democrático neoliberal.

A democracia neoliberal utiliza-se de um discurso ideológico com a máxima de liberdade individual e meritocracia. Entretanto, nitidamente é um mero discurso, já que a maior parcela da população segue sob o jugo das opressões. Em que liberdade e emancipação é uma falácia dentro desta sociedade fundada na mercantilização da vida, em que a democracia representativa burguesa resume-se a participar do período eleitoral, já que todo controle político da máquina estatal está nas mãos das grandes famílias brancas da elite brasileira.

A supremacia branca e o próprio neoliberalismo impulsiona a e dissemina o conceito de ocupação de espaços de poder como sinônimo de liberdade e igualdade dentro da institucionalidade da democracia neoliberal. Somos a favor de ocupações por parte de negros, periféricos, mulheres e LGBTQI + em todos os espaços da sociedade, principalmente com um horizonte político de derrubada da democracia neoliberal. Porém, essa não é a realidade a que assistimos. 

A democracia neoliberal agradece as pessoas que acreditam na ocupação como vitória, pois é apenas a migalha dada aos que historicamente são oprimidos e oprimidas pela supremacia branca. Afinal, as estruturas e instituições que nos matam e controlam seguem seu projeto político de controle e impedimento de levantes populares.

Um bom exemplo é a democracia norte-americana, que mesmo ampliando as representações de cor, raça, gênero, sexualidade e território nas instâncias do Estado, principalmente no Parlamento, não significou ruptura ou mudança nas vidas destas populações nas terras do Tio Sam. Pelo contrário, a população negra nos EUA representa 14% do todo populacional, e mesmo assim, a população negra é a parcela de habitantes mais assassinada pelas polícias e encarceradas. Portanto, nenhum projeto político se não colocar na sua centralidade o fim desta democracia neoliberal e do capitalismo racial viverá de ilusões e migalhas.

E explico que a minha reflexão e crítica, é a democracia capitalistas em tempos neoliberais, e não ao termo democracia, por isto concordo muito com o termo criado por Angela Davis da Democracia da Abolição, nesta, a luta seria para acabar com todas institucionalidades desta democracia e com a própria democracia, pois nestas nunca seremos livres. Democracia da Abolição é a democracia por vir, um conjunto de relações sociais livres da opressão e da injustiça.

A pergunta que fica é: queremos a democracia do capital atual ou construir de fato a democracia da Abolição?


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