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Por Rayssa Pereira e Fransérgio Goulart


No último sábado, dia 21/11, ocorreu no campo do Luizinho localizado em Éden – São João de Meriti/RJ a nossa última atividade da Campanha #BaixadaNegraViva, a inauguração do memorial em grafite “Mães Negras e Periféricas na Luta contra o Terrorismo do Estado”.

A intervenção artística foi realizada pela Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial e a Rede Nacional de Mães e Familiares Vítimas do Terrorismo do Estado e contou com a parceria da organização local, Projeto Inclusão.

Foto: IDMJR

A atividade teve como objetivo reafirmar que são as mães negras e periféricas que realizam e protagonizam as lutas sociais de enfrentamento ao Terrorismo do Estado no Brasil.

Ressalta-se que a escolha do grafite para ser utilizada como técnica artística para essa intervenção cultural não foi uma escolha aleatória. A escolha do grafite como maneira de representar a força, memória e ancestralidade também faz parte do empoderamento do povo preto e periférico e dialoga de forma mais direta com a população, devido a identidade cultural do grafite que nasce da arte urbana e do gueto.

Foto: IDMJR

Entendendo a Justiça Racial como um instrumento de reparação histórica, o projeto de construção de memoriais através de placas e grafites tem como objetivo o fortalecimento e preservação das memórias, bem como, a articulação com as moradoras e moradores locais sobre os impactos das violações de Estado.

Através da construção de redes de movimentos sociais e organizações sociais da Baixada Fluminense, chegamos até o Projeto Inclusão, realizado no Bairro de Éden em São João de Meriti. Um projeto comunitário que nasceu em 2014, com a necessidade de acolher e dar oportunidade para crianças e adolescentes da comunidade local, coordenado pela Élida Nascimento e seu esposo Marcos Antônio também moradores da comunidade.

Ademais, entendendo que apenas as ações coletivas são capazes de alterar a estrutura social, a IDMJR, a Rede de Mães e Familiares contra o Terrorismo do Estado e o Projeto Inclusão uniram forças para construção de mais um memorial na Baixada, construção que foi abraçada por toda comunidade local, que também luta todos os dias por uma justiça social efetiva e por respeito.

O memorial realiza uma homenagem as Mulheres e Mães Negras e Periféricas que tiveram seus filhos e familiares mortos vítimas da Violência do Estado, que lutaram e ainda lutam por Justiça e para que essas violações nunca mais aconteçam.

Para Verônica Rocha, moradora de São Matheus em São João do Meriti: “Esse tipo de ação afirma que nós temos que contar nossas histórias, e que ao trabalharmos com memória estamos produzindo acolhimento e afeto”.

Verônica ressalta que quando algum jovem é assassinado pelo Estado, vemos pelos muros de toda a Baixada frases em homenagens a esses jovens produzidas por outros jovens e que isso conforta essas mães que fazem essa luta contra o terrorismo do Estado.

Verônica Rocha, Professora da Rede Pública de Ensino.

Ademais, Nívia Raposo – Articuladora da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial e membra da Rede de Mães e Familiares Vítimas da Violência do Estado na Baixada Fluminense, ratifica que atividades como essas possibilitam contar nossas histórias, que não vemos em outro lugar, e que a memória visual se transforma em memória coletiva de forma muito rápida. “Nós, mães negras, que estamos dentro dessa luta, não conseguimos dimensionar por vezes o quanto produzimos de resistências, e ao ver um memorial que nos homenageia isso nos fortalece a continuar a luta.”

Nívia Raposo – Articuladora Política e de Mobilização da IDMJR

Por fim, vale lembrar que essa atividade foi mais uma ação também que antecede o V Encontro Nacional de Mães e Familiares Vítimas do Terrorismo do Estado que acontecerá em 2021 no Ceará-Fortaleza.

Dada a importância desta intervenção artística para a produção de memória do povo negro, as Juventudes que compareceram na construção do Grafite, solicitaram uma oficina para também aprenderem a grafitar. E dessa proposta popular dos jovens, firmamos uma a articulação com o Projeto Inclusão para  no início de 2021, iniciar uma oficina de técnicas de grafite com moradores locais.

“É importante ter esses memoriais espalhados pelas cidades, ruas, becos e vielas, para que o povo preto tenha orgulho de sua história e nunca a esqueça“. (Giselle Florentino)


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