1 8 min 4 anos

Por Cristiano Silva

A semana passa com uma certa tensão, os problemas diários não dão trégua. Os dias vão passando, até que o calendário pendurado na geladeira ou em qualquer outro lugar da residência alerta que, “amanhã é dia de visita”.

Pronto! A partir daí a ansiedade, as angústias e outras preocupações regem toda a estrutura emocional do(a) visitante. Só de pensar como chegar, no que fazer para levar e como será o plantão do dia, trazem reações e efeitos que são sentidas na pele, perdem o sono, o dia se torna massante e os sentimentos de alegria (em ver o ente) e tristeza (enfrentar o massacre) se misturam intensamente. 

Muitas realidades poderiam ser apresentadas, cada família tem uma narrativa e uma maneira peculiar de reagir a tais experiências. Contudo, ir à prisão e enfrentar a via dolorosa é extremamente desgastante. Há todo um processo para acessá-la, saber a relação de itens e valores permitidos, as roupas a serem usadas, as vasilhas que devem ser levadas. Tudo conforme os critérios estabelecidos na resolução da Seap e dos(as) guardas.

Além disso, os(as) visitantes precisam estar atentas(os) aos possíveis perigos e situações presentes nos esquemas na fila de entrada no complexo e nas unidades.

Há familiares que chegam no dia anterior à visita, uns alugam quartos ou ficam ao relento outros chegam bem cedo, com suas bolsas lotadas de dor, sofrimento, cansaço e amor. Muitas gostariam de ir também porém vários entraves impossibilitam e outras se negam. Manter à proximidade dos seu ente privado requer muita grana, fé e coragem, na falta, não cabe críticas.

Há de saber, muitos lucram com esse sistema, isso move a economia nas adjacências, é impressionante e ao mesmo tempo assustador.

Na batida da insônia, da noite mal dormida, na preparação do alimento para por na vasilha e ensacar cuidadosamente os demais itens da lista em sacos transparentes. Acordar as crianças, dar o café da manhã e arrumá-las, caminhar até o ponto de transporte com bolsas pesadas num alerta total sob os olhares tendenciosos e críticos alheios. Poucos(as) são os(as) que apoiam. Mães e avós guerreiras submetem-se a tamanhos esforços, para que a sensação de paternidade e maternidade do(a) apenado(a) também não sejam privados(as).

Chegando ao Complexo de Gericinó logo se avista a interminável fila, àquela fila criminalizada socialmente no qual borra a constituição federal no artigo 5°- onde o texto aborda que nenhuma pena passará da pessoa do condenado, tudo acontece ao contrário.

A lei federal recentemente estabelecida de n°13.460/17 que versa sobre a defesa do usuário do serviço público são constantemente refutadas pela Seap, como se os familiares fossem custodiados sem direitos. No seguir do fluxo e ao passar pela cancela, enfrentará  mais uma tensão, “o escaner”, a serviço da fundada suspeita estereotipada.

Ali, ocorrem cenas traumáticas, prisões, separações de mães, filhos e parentes por tentarem levar substâncias e objetos ilícitos, tudo acontece à vista de todos. É evidente que os numerosos objetos e substâncias ilícitas encontradas dentro das unidades prisionais são transportadas por outras vias.

O complexo ocupa uma larga extensão dependendo da distância da unidade é preciso pegar o transporte cedido pela Seap, outra luta! Algumas famílias correm para garantir os primeiros lugares nas unidades mais próximas da cancela, pré-adolescentes e adolescentes assumem essa tarefa na maioria das vezes, embora tenha fila de prioridades, são as que ficam mais cheias.

Ao adentrar, o detector de metais e a revista subjetiva dos(as) guardas geram estresses e constrangimentos, o sentimento de humilhação acompanha cada procedimento. O medo e o silêncio passam a controlar todas as atitudes para evitar a perda das carteirinhas e o impedimento de entrarem nas unidades. Por vezes, visitantes são selecionadas(os) para voltarem à cancela para uma inspeção mais invasiva sob as ordens da fundada suspeita estereotipada.

Foto: Regina de Grammont / Rede Brasil Atual

“Chegar ao pátio de visita é sinal que todos os obstáculos foram vencidos”, encontrar com o(a) apenado(a), e preparar um discurso impregnado de positividade é desafiador, o semblante demonstra a estafa de ter conseguido chegar. Existem detentos(as) que preferem não receber visitas, pois sabem que os familiares passarão pelo inevitável massacre.

No decorrer da visita o relógio gira com mais rapidez, sentar-se à mesa ou em outro espaço para compartilhar o alimento, trocar gentilezas, abraçar e beijar traz uma certa satisfação, o brilho nos olhos e na face tanto do visitante quanto do visitado  suavizam brevemente todas as tensões. Ainda que reduzido o números de visitantes do sexo masculino, em algumas unidades eram os últimos, chegavam cedo, mas só entravam após todas as famílias, pelas longas esperas procuravam lugares próximos para descansarem seus corpos exaustos.

No pátio acontecem ações solidárias, há visitantes que compartilham com outros familiares suas alimentações. Houve situações que o apenado pediu a brilhosa (quentinha servida na cadeia) para partilhar entre os seus. É um ambiente carregado de lástimas, culpas, promessas, arrependimentos, expectativas, alívio, dor e sofrimento. 

Agentes penais da unidade tocam o alarme, anunciando que a visita acabou! um sentimento de choro percorre o corpo inteiro, um forte aperto no peito resume a dor da ruptura familiar. A despedida fere a alma, trocas de abraços intensos traz uma sensação que será o último, os olhos marejados anunciam que a resistência do corpo está se esgotando. A impotência suprime aquela vontade de arrancar o ente daquele lugar horrível. Sabe aquele misto de sentimentos do dia e no que antecede, logo, são reconfigurados, a alegria de estar saindo da casa de pedra e a tristeza por não poder sair de braços dados com a pessoa querida.

Mensagens finais são verbalizadas, informações de responsabilidade emitidas pelo(a) visitado(a), são transferidas aos filhos(as), pais, esposas(os) e parentes, o visitante gesticula a cabeça dando um sinal que irá atender às solicitações. São informes sobre união familiar, cuidados mútuos, palavras de segurança afetiva.

O derradeiro cumprimento afaga a todos, e então, a visita vai se distanciando e sucessivos acenos vão sendo realizados ao olhar para trás, as trocas de olhares perfuram todas as barreiras, até passar novamente pelos portões. Recebem de volta suas carteirinhas, voltam para suas casas, extenuadas, o implacável calendário sem pena reafirma a realidade tão dura, que, a próxima ida chegará e provocará novamente várias sensações e tensões nos corpos de ambos, visitantes e visitados(as).


One thought on “AMANHÃ É DIA DE VISITA!

  1. Oe Boa noite meu nome é Aparecida meu filho está preso a nove meses quando ele tava aqui na minha cidade conseguia ver ele depois ele foi transferido pra coronel Fabriciano depois veio pra ponte nova agente não consegue notícias quando agente liga agente percebi que eles tira o telefone do gancho e não atende agente quando atende eles trataram agente mal disseram que as visitas vão ser liberada dia 18 mais a uai tem que trocar nossas carteirinha e não estão funcionando e não tem previsão de quando vai voutar agente compra as coisas pra eles toalha eles tomam estou cansada de levar as coisas o preso tá pagando pelo crime que cometeu não precisa ser tratado com tanta fauta de humanidade as família vão visitar tbm e mal recebida não sei mais que fazer e esperar um milagre agente ver falar de tudo que tá sendo feito pra salvar todos desse vírus e ninguém da informação como estão cuidando de nossos filhos na prisão pra que eles não pegue essa doença amo meu filho nunca vou desistir dele .

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